9.8.04

Barbies

Podem negar até à morte mas os homens gostam é de Barbies. Bonecas devidamente insufladas nos locais certos, modelos de virtude física e psicológica, sempre sorridentes e que lhes satisfaçam todas as vontades, qual cãozinho doméstico: chinelos numa mão, bebida na outra. Que não discutam, não refilem, não discordem, em suma, não tenham ideias próprias.

Sim, fui ao cinema ver "Stepford Wives". Que mais se faz num domingo à tarde de Agosto em que está a chover? Pode ver-se outro filme, é certo mas eu estava mesmo curiosa para ver este depois de ter passado os últimos dias a ver a apresentação em tudo o que era programa de cinema na televisão. E à medida que o filme avançava mais me convencia que aquilo é o grande sonho de todos os homens: poderem transformar as suas mulheres cheias de defeitos em mulherzinhas perfeitas, robots domesticados, imaculadamente vestidas, penteadas e maquilhadas em qualquer situação da vida. Preferencialmente ocas, burras, louras (esta é essencial), obedientes, servis, subjugadas, subservientes e que jamais ofusquem as suas inteligências superiores de macho.

Pois não é que a idiota da louraburra sentada no cinema ao meu lado começou calmamente a pintar as unhas (logo a seguir ao namoradinho ter atendido o telemóvel já as luzes se estavam a apagar). Mas quem é que pinta as unhas no cinema? E porque é que eu, que paguei bilhete como toda a gente, e que até me sentei ali primeiro, tenho de estar a gramar aquele cheiro horroroso que se enfia pelo nariz dentro sem dó nem piedade? E ainda por cima no cinema??? Por amor de Deus, o que é que falta a seguir, irem para lá lavar roupa? Cortar unhas? Descalçar os sapatos? Comer um cozido à portuguesa??? E como se não bastasse, era tal a sofreguidão com que enfiava as malditas pipocas na boca que achei que não devia comer há pelo menos 15 dias. Pois é, sempre que vou ao cinema pergunto-me "Porque é que não fiquei em casa?" E ontem foi mais uma dessas vezes.

Barbies e cinema, não há pior casamento. Mas voltando às "Mulheres Perfeitas", o pior é que há mesmo muitas que se prestam a este papel. Ainda bem que eu sempre fui Maria-Rapaz.