6.8.04

Este gajo não existe

Do outro lado do armário, as conversas sucedem-se a bom ritmo. Ao fim de mais de dois anos de conhecer a peça ainda não consigo perceber se tudo o que ele diz é a sério, ou a brincar. Há coisas que tenho a certeza que são a brincar mas o ar com que as diz é tão sério e compenetrado que no final fico sempre com dúvidas. Seja o que for, as saídas roçam o hilariante.

É daquelas personagens que "se não existisse tinha mesmo de ser inventada", "só visto, contado ninguém acredita" e todos os ditados do género que lhe quiserem aplicar. É uma mistura de ingenuidade com machismo com não sei bem o quê. Um rapaz de 20 e tantos dos tempos modernos com mentalidade por vezes descendente do século passado. Nos últimos tempos tem andado a tentar arranjar companhia para um amigo cuja namorada lhe deu com os pés. E tenta convencer as colegas "solteiras" a aceitá-lo. Mas ao mesmo tempo não tem nada de bom para dizer acerca do dito cujo amigo: "ele é assim mais ou menos como eu, mas é capaz de vestir umas calças de fato treino com uma camisa e sapatos de vela. Mas vocês não se importam pois não?".

Hoje há novidades: "o meu amigo já arranjou outra, não quiseste aproveitar..." dirigindo-se à mais recente aquisição do departamento. Do outro lado o coro feminino de "ohhhhhs" irónicos. "Mas quer dizer, ele continua aberto a outras coisas, só já não está é desesperado"...

Pergunta que se impõe: os homens ficam assim tão desesperados quando não têm namorada? E porque é que não me parece que com as mulheres suceda o mesmo? E porque é que estas perguntas parecem saídas do laptop de Carrie Bradshaw para a coluna de Sex in the City?