18.3.04

Os amigos

Toda a gente devia ter daqueles amigos com quem se consegue passar meses ou até anos sem falar pelos mais diversos motivos originados pelos caminhos normais da vida e que quando a convivência retoma é como só tivesse passado um dia. Cheguei à conclusão que tenho vários amigos assim. Posso até passar anos sem os ver mas sei que estão lá se eu precisar e eles também sabem que eu estou aqui.

Os verdadeiros amigos são aqueles que não nos cobram constantemente a nossa presença nem nos acusam de não lhes ligarmos nenhuma só porque temos outras coisas para fazer e a nossa vida não se resume a jantares e idas a discotecas. São os que sabem que podem sempre contar connosco independentemente da última vez que falámos já ter sido há tempo demais para nos lembrarmos disso. São os que se vão manter para sempre mesmo quando chegarmos aos 80 e muitos tiverem ficado pelo caminho.

Tenho a sorte de ter feito vários (muitos) amigos ao longo da vida e de, felizmente, continuar a fazer. Não vou cair naquele famoso cliché e dizer que os verdadeiros amigos se contam pelos dedos da mão porque as minhas mãos precisavam de mais dedos. Porque eu não preciso de falar com os meus amigos todos os dias ou sair com eles todos os fins-de-semana para os considerar verdadeiros amigos. E também não preciso de lhes fazer todas as confidências sobre a minha vida nem saber as deles para os ter como amigos. Nem preciso que me contem tudo o que se passa na vida deles em primeiro lugar antes de contarem aos outros. Só preciso que existam.

Estou com os meus amigos quando tenho vontade e disponibilidade, não por frete e obrigação. Nem sempre é fácil fazer por isso. Uns têm mais tempo que outros, uns mais obrigações extra amizade que outros e nem sempre é fácil conciliar as vidas agitadas da juventude (hum hum) dos nossos dias.

Tenho amigos desde que nasci, desde o Colégio, desde o liceu, desde a faculdade, desde os empregos... curiosamente não da escola primária mas também passei por tantas que era difícil conseguir esse feito. Acho que fui fazendo amigos em todos os lados por onde passei e gosto de cultivar essa amizade nem que seja só com um postal no Natal. Porque por muito que possa parecer piroso, só o simples facto de enviar a alguém um postal no Natal mostra que nos lembrámos dele, certo? E é meio caminho andado para ele ter a certeza que nos lembrámos dele muito mais vezes durante o ano mas que por 1001 contingências acabámos por só no Natal arranjar a disponibilidade para lhe dizer isso mesmo.

Gostava de ter mais tempo para estar com os meus amigos, a sério que gostava, mas a vida assim não o permite. Os fins-de-semana são curtos para tanta solicitação e o tempo passa mesmo a voar. Quando damos por nós já somos adultos, alguns pais e as 24h não esticam. Gostava que todos os meus amigos compreendessem isso. Que não é por mal que não lhes ligo tanto quanto gostaria ou estou com eles como desejaria. Se eles tiverem vontade de ligar não deixem de o fazer só porque eu não liguei primeiro.

A amizade é das tais coisas onde nunca se devia cobrar nada a ninguém, devia ser tudo natural. Gostava que em todos os casos acontecesse o mesmo que descrevi ao início. Os meses podem passar, os anos podem voar mas quando finalmente nos voltarmos a encontrar, parece que ainda foi ontem que estivemos juntos, a rir e a conversar!