15.3.04

Ninguém é perfeito

Assim mesmo me foi dado o mote para um dos meus mais queridos ódios de estimação: o tabaco.

Mete-me nojo entrar numa casa de banho e não conseguir respirar porque há quem entenda que o espaço já de si reduzido de uma casa de banho pública é o local apropriado para matar o vício. Mete-me igualmente nojo entrar na cozinha do local onde trabalho, apenas por uns meros segundos para lavar a maçã que pretendo comer e ficar com o cabelo de tal maneira empestado em fumo que fico mal disposta com aquele cheiro nauseabundo para o resto do dia.

Metem-me nojo as grávidas que exibem barrigas proeminentes com o mesmo orgulho com que exibem o cirgarrinho da praxe na mão. Metem-me nojo as mães e os pais que empurram carrinhos de bebé com uma mão e empunham o belo do apêndice esfumaçante na outra.

Mete-me nojo ter de almoçar ou jantar num sítio qualquer e engolir garfadas de fumo quando o que tento engolir é mesmo comida. E ainda ser olhada de lado se chamo a atenção para o incómodo que me está a causar. Vá lá saber-se porquê, há pessoas que gostam de engolir fumo enquanto comem. Deve ser uma tara qualquer.

Mete-me nojo querer sair à noite para um sítio qualquer onde possar conversar um pouco com os amigos e chegar a casa completamente empestada da ponta do cabelo até às unhas dos pés, roupa interior incluída. É por isso que cada vez saio menos. Digam mal dos McDonald's à vontade. Pelo menos aí tenho a certeza que ninguém vai estar a fumar para cima de mim. Infelizmente, para conseguir comer num restaurante de não fumadores só se pode comer fast-food, não devemos merecer mais que isso, devemos ter feito mal a alguém, se calhar é a nossa refeição que incomoda o tabaco dos outros!

Metem-me nojo os putos betos de hoje em dia que acham que fumar lhes dá um estilo fantástico porque está na moda. Para mim só têm mesmo é estilo de parvos e alguém um dia lhes vai ter de dizer que beijá-los é a mesma coisa que lamber um cinzeiro. Ainda me metem mais nojo as pessoas que nunca fumaram enquanto adolescentes e que depois de adultos é que lhes dá para isso. É que nem têm a desculpa do "era novo, não pensava, agora não consigo parar".

Metem-me nojo as pessoas que não respeitam o direito que eu tenho de respirar ar sem fumo de tabaco e que ao mesmo tempo se queixam que não são respeitados os seus direitos como fumadores. Quais direitos? Só se for o de poluir o ar que todos respiramos e contribuir para que o dito cujo fique ainda mais irrespirável (e não me venham com a treta dos fumos de escape dos carros porque é impossível viver em 2004 sem carros, não é impossível viver sem cigarros).

Metem-me nojo as pessoas que se escondem nas casas de banho dos aviões para fumar quando isso não só é proibido como potencialmente perigoso. Metem-me nojo as pessoas que temos de gramar nos transportes públicos cuja roupa tresanda a tabaco e que tentam esconder isso com litros de perfume.

O tabaco é capaz de ser o maior turn off que alguma vez posso imaginar e jamais me interessaria por alguém que fumasse. Seria motivo de divórcio mesmo. Aliás, não seria motivo de divórcio porque nunca chegaria a haver casamento. E se tivesse havido e esta realidade aparecesse depois eu ia pensar que era eu que tinha feito alguma coisa de errado. E aí seria motivo para divórcio, sim senhor. Sem apelo nem agravo. Não consigo pensar em nada menos excitante e mais desinteressante.

Por tudo isto e muito mais é que adorava que aqui fossem aplicadas as mesmas leis anti-tabaco que nos Estados Unidos. Se há coisa em que sou fundamentalista é mesmo esta. E enquanto este cheiro nojento me estiver a chegar ao nariz como está neste momento, vou continuar a despejar a minha raiva. Toda a gente havia de ter vergonha de acender cigarros na rua, em locais fechados, no cais do Metro, no aeroporto. Em todos os aeroportos dos países civilizados que conheço, basta ir a Paris e Londres para não ir mais longe, é proibido fumar. Aqui tinhamos de ser diferentes, cada um faz o que quer como manda a lei da Anarquia e os outros que se amolem e que fujam dali e é se querem continuar a respirar.

Se estas coisas fossem de escolher, eu escolhia só gostar de pessoas que não fumam e tentava estar só com pessoas que não fumam. Felizmente para mim e nem sequer foi de propósito, a maioria das pessoas com que me dou não fuma. Uma mão chega e sobra para contar os meus amigos e conhecidos todos que ainda não se renderam à evidência de que aquela porcaria... é mesmo uma grande porcaria.

Resumindo e baralhando: o tabaco mete-me nojo. Pois é amiga, ninguém é perfeito!