9.3.04

É uma vergonha mas sou do Benfica

"O problema é que Portugal é um país absolutamente benfiquista. E para um Benfiquista é pouco importante ganhar. O que é importante é ser do glorioso, ou pelo menos parecer.

A confusão em torno da Selecção Nacional é tão estúpida que me sinto também um pouco estúpido a escrever sobre ela. Até porque, aparentemente, esta questão não tem nada a ver com o “briefing”, nem com estas coisas da publicidade. Aparentemente. Depois de ver o Porto jogar, cilindrando o Manchester, tive pena de não ser do FCPorto. Infelizmente, sou do Benfica, o que cada vez mais me soa a defeito e a falta de inteligência. O pior é que estas coisas não se escolhem. Se Portugal fosse um bocadinho como a equipa do Porto, se não tivesse medo da concorrência, se corresse durante os 90 minutos que dura o jogo, se acabasse esgotado, tendo ganho ou não, se assumisse a derrota como uma falha e não como um erro do árbitro, das condições climatéricas e da relva. Se Portugal fosse todo assim, como são os do Porto, isto seria melhor. O problema é que Portugal é um país absolutamente benfiquista. E para um Benfiquista é pouco importante ganhar. O que é importante é ser do glorioso, ou pelo menos parecer. Um Benfiquista é alguém que vive da aparência e da opulência de um passado cada vez mais longínquo, em que a lenda se confunde com a realidade, substituindo-a gradualmente. Os portistas vivem do presente. Vivem da vitória. A coisa é de tal forma que quando jogam com clubes portugueses eles já perdem metade do gozo e jogam a meio gás, Por tudo isto, é que não percebo as dúvidas e confusões na cabeça de Scolari. A Selecção Nacional portuguesa devia incluir todos os jogadores do Porto que podem jogar por Portugal, e depois era só arranjar um ou outro para preencher os espaços em branco, juntando um Figo, e um Pauleta, e quanto menos, melhor. O Portugal do Porto é melhor do que o Portugal do Benfica, do Sporting ou dos imigrantes em Itália, Espanha e Inglaterra, cheios de madeixas no cabelo e tiques de pop-star de boys bands fugazes. Os do Porto, que infelizmente não são os meus, trabalham, correm, choram. Os meus, que são os outros, não. Fazem outras coisas. Nunca ganham é nada.
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Mário São Vicente, director da “Briefing”

Não resisti!!!