Foi há um ano
Sempre tive a tensão normal a vida toda e assim foi a gravidez até ao último mês. No início de Dezembro, então já com 36 semanas, deu-me uma valente cólica renal. Achava eu que era uma cólica renal. Lá entrei nas urgências de um hospital pela primeira vez na minha vida e diagnosticaram-me uma infecção urinária, que nas grávidas pode dar sintomas de cólica renal. E como eu conheço bem os sintomas de cólica renal... Foi nessa urgência que pela primeira vez me apercebi que tinha a tensão anormalmente alta para o que era meu costume. Mas não prestei muita atenção. Se há coisa que não sou é hipocondríaca. E naquela fase jamais poria a hipótese de que alguma coisa pudesse correr mal.
Continuei tudo normalmente. Não como muito sal por isso até aí não estava preocupada. Quando chegou o dia, há 365 dias atrás, tal e qual como eu tinha vaticinado que ia ser desde que soube da gravidez, lá fui para o hospital a sofrer dores dilacerantes que se acentuavam à medida que o tempo passava. Começaram a medir-me a tensão e ela sempre alta. Durante o trabalho de parto disparou, acho que chegou aos 20. Houve uma altura que não apanhavam nada no CTG, uma médica veio dizer-me que iam tirar o bebé "por cima". Mas depois veio outro médico fazer-me festinhas (o director do serviço) e afinal o aparelho não estava a apanhar bem, lá se começou a ouvir novamente e afinal a cesariana ficava adiada a ver se ela vinha normalmente.
Mas ainda antes e depois de fazer quilómetros nos corredores a tentar provocar a bendita da dilatação, e a trepar pelas paredes cada vez que tinha uma contracção (e a esmagar os dedos do papá, sorry!), lá me deixaram finalmente entrar. Tirar roupa, vestir bata e mais pormenores que não interessam, adeus ao pai, quando voltar já somos duas. Naquela sala, onde me apercebi que estava mais uma pessoa entre os cortinados de uma cama, mas que não dizia nada, enquanto a mim só me apetecia gritar, fiquei ali a dizer mal da minha vida e a pensar "mas porque é que eu me meti nisto??". Cada vez que a enfermeira entrava ali eu perguntava se já podia levar a bendita injecção. Eu, que sou bicho do mato, e que só pergunto alguma coisa quando tem mesmo, fartei-me de chatear a senhora que já se ria com a minha insistência "Pois, não eras tu que estavas ali!"
Primeiro eram dois dedos, depois trés, depois nem me lembro. Não sei quanto tempo estive ali, mal me lembro de ter dali saído. Achei que tinha chegado a altura porque me levaram para a sala de partos, achava eu. Só lá estava eu, nessa altura disseram-me que iam chamar o pai. Ele veio, deu-me toda a força que podia, conversámos, brincámos, até tirou fotografias. E a bendita da epidural que nunca mais vinha. Era dia 31 de Dezembro, já de tarde, tudo a preparar-se para a passagem de ano. Ouvi alguém dizer que não havia anestesistas. Só me apetecia fugir dali. Lembro-me de ter perguntado se podia mandar vir um anestesista qualquer doutro sítio, se isso era permitido. Bolas, a minha mãe havia de conhecer algum que não se importasse de ir ali, eu pago!
Mas não foi preciso. Ainda ouvi o director do serviço dizer que assim não podia ser, precisava de um anestesista ali e era já. O que é certo é que pouco depois ela apareceu. Deixou com certeza outro desgraçado qualquer à espera porque estava de serviço nas urgências. E fazer posição para levar a epidural, dobre-se assim, vire-se assim, faça força assim. Ora gaita, nunca levei uma coisa destas, estou aqui em sofrimento e ainda tenho de me pôr numa posição especial?? Estava a ver que a maldita injecção nunca mais entrava. Mas lá entrou. E aliviou um bocado. Mas sentia-me completamente a tremer e não era de frio. Se com a epidural ainda tinha as dores que tinha nem quero imaginar se não a tivesse levado. Dêem-me todas as drogas que encontrarem, quero lá saber de "sentir" tudo e mais alguma coisa. Não é isso que faz de mim melhor mãe. E eu não sou nada maricas mas há coisas que não se desejam a ninguém.
Rebentaram-me as águas com uma coisa comprida. Senti água quente por todo o lado. Bah, já estava por tudo, façam o que quiserem, ponham as mãos onde quiserem mas tirem-me a miúda daqui! Estava acordada desde as 4 da manhã e eram quase 6 da tarde. Sentia-me porquíssima, só me apetecia tomar banho. A enfermeira contou-me uma anedota. Não me lembro qual mas adorei o facto deles tentarem fazer com que tudo fosse descontraído. Comos e estivesse noutro sítio qualquer e não ali. Agora sente-se e finja que está a aandar a cavalo. Faça força, mais força, isso ... Mais um toque, 8 dedos ou lá que era... hum, mas ela está virada de costas... hum, é melhor chamar o médico ... e ao fim destas horas todas e de não sei quantos toques é que perceberam que ela estava virada de costas??? Pronto, sempre ia ser cesariana, tinha andado a preparar-me para isso durante meses porque ela não dava a volta e quando deu na última semana ficou de cabeça mas mal posicionada. Oh rapariga, tu não sabias fazer as coisas como deve ser?.
Para grande desgoto dele, o pai foi despachado. Outra sala, cheia de luzes, o rádio a tocar, médicas e enfermeiras, ar de serem novas, super descontraídas, a falarem da música e sei lá de mais o quê. "Sente alguma coisa nas pernas?" Sinto um líquido. Mas é quente ou frio? Não faço a mais pequena ideia. Então está pronta. Senti o corte. Quer dizer, senti uma coisinha qualquer mas sem dor nenhuma. Senti remexerem e puxarem e esticarem, achei que ia vomitar mas isso sou eu que odeio hospitais e sangue e agulhas e tudo o que mexa com entranhas. Nem meia hora deve ter demorado. Cá está ela. E Mostraram-ma e ela riu-se para mim :-) Tinha finalmente nascido.
Algures li "Cesariana por risco de sofrimento fetal". Ui. Parece perigoso. O que é que isso interessa agora. Ela estava ali e estava bem. Era tão pequenina e agora está tão grande. É linda. É perfeita. É simpática. É bem disposta. É compridona. É sorridente. É saudável. Dorme a noite toda desde os 4 meses. Não é chorona. É super mexida. É descarada. Até ver é um bebé que dá gosto ter. E que sejam todos iguais a ela. Acho que fiquei foi mal habituada. Mas para a próxima não me vou arriscar a passar pelo mesmo.
Bolas, fiquei cansada. Nunca tinha descrito o parto antes. Muitos pormenores já se foram com o tempo certamente. Ficou o essencial. Só agora me apeteceu rever todo o momento mentalmente. Não porque tenha sido traumatizante porque não foi. Ainda na cama do hospital já estava com vontade de ter outro (ao contrário do que tinha pensado horas antes na marquesa da sala de preparação). Mas porque o fiz à laia de comemoração. Comemoração de um ano de vida da bebé mais linda do mundo (ou não fosse a minha) e da coisinha mais importante que me aconteceu até hoje, a nossa única e verdadeira obra-prima.
Um ano em grande para todos! Que sejam muito felizes