Quanto mais navego por esses blogs fora mais me convenço que devo ser um bicho muito raro. Até hoje não encontrei ninguém que não fique triste por ter de deixar de amamentar. Triste, desiludida, chorona... etc., etc., etc. Seja porque ficam sem leite ou porque têm de fazer algum tratamento médico ou porque vão começar a trabalhar, o sentimento mais comum é a tristeza. Estou já à espera de ser crucificada (como acontece muitas vezes quando resolvo partilhar alguma opinião mais íntima) mas a verdade é que eu odiei dar de mamar e se o fiz durante 15 dias foi porque tinha na cabeça toda uma série de ideias enfiadas à martelada por família e médicos e afins. Odiei, odiei, odiei o acto em sim. Era desconfortável, por vezes doía (e usei sempre aqueles protectores de silicone até porque não conseguia fazê-lo de outra forma), e achei sempre aquilo nojento e deprimente, sentia-me como uma vaca autêntica.
E tenho a certeza que se tivesse continuado e tivesse insistido teria arranjado uma depressão de todo o tamanho. Felizmente resolvi o problema da forma que achei melhor, aluguei uma bomba eléctrica (maior invenção do ser humano a seguir à roda) e apesar de continuar a achar uma seca o tempo que perdia a tirar leite, só vi vantagens no assunto. E foi a melhor coisa que podia ter feito. A partir desse dia tornei-me muito mais feliz. Primeiro porque a
Filipa continuou a ganhar os anticorpos que só o leite materno possui, segundo dizem os entendidos, ao mesmo tempo que eu continuei a emagrecer; depois porque pude sair de casa sempre que me apetecesse tendo o leite para ela no frigorífico para alguém dar; depois porque não precisava de me levantar de noite todas as vezes que ela tinha fome porque o pai também o podia fazer; e melhor ainda porque se ia almoçar fora e ela tinha fome - e fi-lo desde que ela tinha um mês - o biberão saía imediatamente do saquinho térmico porque eu jamais em tempo algum daria de mamar em pleno restaurante ou centro comercial ou seja lá onde for como vejo tanta gente a fazer. Desculpem lá mas isso é que já não me parece muito saudável. Se os bebés precisam do leite da mãe também precisam de mamar em ambiente descontraído e calmo, não no meio da confusão com não sei quantas pessoas a espreitar. Por essas e por outras é que conheço muitas que só conseguiram sair de casa quando os bebés já se aguentavam umas horinhas e tinham horários mais certos porque até aí eram prisioneiras das suas próprias casas porque a qualquer momento o bebé podia chorar com fome e havia um milhão de sítios onde não dava jeito nenhum dar de mamar. Sinceramente estes filmes não são para mim. E mais vantagem ainda, com a bomba tinha a certeza que saía tudo e que ela bebia tudo, principalmente a parte do fim que, segundo me disse a pediatra no hospital, é a parte mais importante do leite e aquela que realmente alimenta. Graças a isso ela sempre dormiu pelo menos sonos de 3 horas.
Enfim, já não consigo conceber a coisa de outra forma. E se tiver outro filho, mal chegue a casa do hospital, a primeira coisa que vou fazer é mandar vir novamente a bomba eléctrica. E não me venham falar dos laços entre mãe e bebé porque a minha filha não gosta menos de mim por eu lhe ter dado leite no biberão em vez de na mama. Pelo contrário, se calhar até gosta mais porque sempre me teve muito mais calma, menos nervosa e mais disponível do que se desse de mamar (a ver por muitos exemplos de muito boa gente que stressa para dar de mamar e fica com o peito em ferida e sofre horrores e mesmo assim insiste, porque é suposto as mulheres sofrerem e porque as avós dizem que é mesmo assim). Porque teve sempre menos trabalho porque no biberão escorre melhor e ela ficava mais satisfeita e não adormecia a comer (bom para ela e para mim), porque isso permitiu que não se viciasse e agora durma noites de 10 horas sem acordar a meio para chuchar na mama como vejo por aí muitos a fazer. Se isto não é qualidade de vida para ambas não sei o que será.
Até mais ou menos aos 3 meses a Filipa bebeu exclusivamente o meu leite e a partir daí houve uma vez ou outra que lhe dei leite em pó. Uma refeição por dia ou metade de uma e havia dias que nem isso que aqui a vaca não produz sempre a mesma quantidade. Quando comecei a trabalhar, já ela comia papa e sopa e consequentemente eu tinha cada vez menos leite mas continuava a ter o que era uma grande chatice. Eu bem que torcia com todas as minhas forças para que aquela porcaria parasse, cada vez tirava menos até porque ela já comia duas refeições que não leite e estive quase, quase a tomar os benditos comprimidos para secar o leite mas como me disseram que aquilo dava tonturas e enjoos e desses já tinha tido a minha dose na gravidez, achei melhor aguentar mais um bocado. Mas durante 3 semanas irritava-me solenemente ter de acordar todos os dias meia hora mais cedo por causa da porcaria do leite. Até que deixei de acordar, fui esticando a corda, esticando até poder deixar de tirar. E quando já não saía quase nada e ela já tinha 6 meses achei que o meu trabalho estava mais que feito, a OMS não diz que devia ser até aos 6 meses? Pois, foi isso que fiz. Claro que a OMS deve ser constituída por um bando de homens velhos que não faz puto de ideia do que significa amamentar mas lá meteram na cabeça que era até aos 6 meses e eu não os quis deixar ficar mal. Conheço muito boa gente que nunca mamou e hoje são crianças e até adultos perfeitamente normais e saudáveis. Os pais gostam menos deles por causa disso? Não me parece. Eles gostam menos dos pais? Também não me parece.
Felizmente tenho uma obstetra que vê mais à frente e que me disse simplesmente "se não dói e não está encaroçado, deixe de tirar, ele há-de secar por si.” E foi o que fiz. Nesse mesmo dia arrumei a bomba e nunca mais lhe peguei. Não, não secou. Mas já não pinga, já não me incomoda, está lá mas é quase como se já não existisse! E eu sinto-me outra! Como disse uma amiga minha recentemente... "só me voltei a sentir uma mulher outra vez quando deixei de ter leite". Ah pois é, afinal não sou a única bicho raro. E isso faz de nós piores mães? Acham que os nossos filhos deixam de gostar tanto de nós? Porventura são menos felizes? A julgar pelo sorriso permanente na cara da minha eu diria que não, que ela deve ser dos bebés mais felizes que eu já alguma vez vi. Agora venham cá dizer-me, os “laços”, ai os laços... tretas de livros, é o que é. Que haja quem se sinta bem óptimo, é lá com elas, mas não me tentem convencer que são melhores mães ou que são mais ligadas aos filhos.
Na verdade, já não via a hora de me livrar daqueles soutiens horrorosos de amamentação com cara de serem das nossas trisavós e aquelas almofadas protectoras da roupa que volta e meia ficavam encharcadas e que no Verão não dão mesmo jeito nenhum porque se notam debaixo da roupa e então com coisas brancas ou mais justas nem pensar. E o leite que escorria cada vez que tomava banho e ter de dormir de soutien para não ficar toda encharcada. E o cheiro do leite e a transpiração misturada e tudo e tudo... eu que detesto leite e só bebo obrigada e bem disfarçado... enfim, pormenores que toda a gente conhece. Blharc, altamente nojento.
Um aparte... sempre achei horrível ver crianças que já andam, a mamar, com a boca cheia de dentes simplesmente porque têm o vício. Com 2, 3 anos, no meio da rua a trepar pelas blusas da mãe acima. Só a imagem me dá arrepios. Posso estar enganada mas parecem-me sempre extremamente mimados e dependentes da mãe. Não quer dizer que sejam e sei que não há regras, mas pronto, não gosto de ver. Assim como não gosto de os ver de chucha com um metro de altura como já tenho visto!
Finalmente, espero que não me levem a mal todas aquelas que adoram dar de mamar, que morriam se não o tivessem podido fazer, que morrem de desgosto quando têm de deixar. Simplesmente tinha de escrever o meu testemunho. Para mim mesma e para todas as que se calhar até pensam assim mas porque como as mulheres são praticamente forçadas a dar de mamar e a gostar de o fazer, se sentem algo constrangidas em admitir que não gostam ou não gostaram. Sim, porque apesar de praticamente só ler o oposto acredito que existam mais mulheres como eu. Não sou certamente um bicho assim tão raro.
E lá por eu não ter gostado não quer dizer que não haja quem goste, obviamente. Custa-me um bocadinho a compreender como é que se pode gostar tanto de algo que para mim não é mais do que um acto de vaca leiteira em versão humana: puto-berra-mãe-imediatamente-com-mama-de- fora, mas aceito perfeitamente. O que não aceito é que haja mães que preferem que os filhos passem fome a darem-lhes suplemento ou a tentarem outras formas de os alimentar porque meteram na cabeça que assim é que tem de ser e que se as outras conseguem elas também hão-de conseguir e porque nos livros está escrito que é o melhor, logo elas também têm de fazer. Isso, desculpem lá, mas não aceito mesmo. E desculpem qualquer coisinha.