Resolvi fazer desporto. Já acabaram de rir? Pronto, então posso continuar. Resolvi fazer desporto porque a idade não perdoa, a gordura acumula-se, as costas estão sempre doridas, os músculos perros. Chega uma altura em que há que dizer basta e por muito que me dê muito mais jeito ser uma
couch potato, não podia continuar a vida toda assim.
Nunca tive pachorra para ginásios (sim, pachorra é uma palavra que eu uso muito, acho que deve ser alentejana mesmo), gente a suar, aos pulos, blharc, não é a minha ideia de divertimento. Dizem que a natação é um desporto muito completo, até faz bem às costas e tudo, há uma ao pé de casa, tenho companhia, ainda por cima não se transpira, pronto, Natação it is, a escolha nem foi difícil.
Comprei um fato de banho de natação, coisa que não tinha há... 17 anos (assustador quando já podemos dizer que houve coisas que fizemos há 17 anos das quais nos lembramos muito bem), uma touca, levei o resto da trouxa e lá fui eu.
Primeira paragem: o vestiário. Àquela hora não estava muita gente, estava tudo dentro de água numa das sessões. Refugiei-me num cubículo para me preparar. A sensação de estar nos balneários aquecidos de uma piscina é reconfortante e era uma sensação que já não sentia há muito. Como se fosse sempre Verão e não fossem precisos casacos para nada. O cubículo não tinha banco, tinha um cabide mal remediado e vestir o fato de banho sem sítio para pousar as coisas é frustrante para uma comodista organizada compulsiva como eu. Superei a prova, com tudo seco não era assim tão difícil.
Segunda paragem: o teste. O monitor, cujo nome não apanhei, era um gajo novo e simpático. Começou logo a tratar-nos por tu. Confessei que já havia muitos (demasiados) anos que não nadava a não ser 3 braçadas na praia mas que sabia nadar o suficiente para não morrer afogada. Ele não estava muito convencido, a segurança e tal, mas lá me mandou para dentro de água. Quente, tal como o duche prévio, que soube como se estivesse a ferver. Que bom, acho que vou gostar disto, pensei eu para as minhas costuras (porque o fato de banho não tem botões!).
A piscina é grande. Acho que se chama semi-olímpica. É exactamente do tamanho da do Colégio e onde supostamente aprendi a nadar duante 5 anos. 25m por 16m. Parece pouco mas ao fim da primeira piscina já estava cansada. Uma de barriga para baixo e uma de barriga para cima, disse o monitor. Terá achado que eu não sabia o que significava bruços, crawl (ou crol como estava escrito nos papéis da inscrição) e costas e preferiu simplificar? Até sei o que é mariposa, fica sabendo. Apesar de nunca ter conseguido nadar aquilo.
Lá fui, a primeira piscina de bruços. A meio da dita, ele grita "Susana, agora crawl" e lá fui o resto "em crawl", sempre com a cara de fora que eu cá ainda não me entendo muito bem com aqueles óculos de água. Cheguei à parte funda e voltei para trás "de barriga para cima". Pelo caminho fui com o braço de encontro à borda da piscina por duas vezes, pois claro. Devem achar que eu tenho olhos na nuca, certamente. Entretanto já o meu respectivo tinha ido e vindo e estava em amena cavaqueira com o monitor. "Tu estás bem, agora a Susana precisava ali de uns toques" acho que foram as palavras do rapaz. Pois, eu disse-lhe que não nadava há "canos", estava à espera do quê, algum Mark Spitz? (lamento mas não me lembro do nome de nenhuma nadadora).
Quem sabe um pouco contrariado, lá pôs uma cruzinha no quadrado "Apto". Quer dizer que acredita que eu consigo andar ali na piscina a fazer umas piscinazitas em utilização livre, sem ele ter de despir a t-shirt para me vir salvar. E eu também acho que consigo. Claro que ao fim de 75m que foi o que acabei por fazer antes dele me ter mandado embora porque a aula seguinte estava quase a começar, já tinha a respiração mais ofegante que sei lá o quê. Mas sentia-me bem, estava completamente molhada, acho que é bem mais agradável que ofegar a seco, a transpirar a roupa.
No balneário novamente... o choque, o espanto, o trauma... (é para ser lido à Artur Albarran). Pronto, ok, eu admito, sou uma elitista púdica e o que quiserem mais, mas eu não tenho de estar num balneário cheio de mulheres nuas pois não? Nem os meus leitores masculinos, se os houver, iriam gostar de ter estado naquele balneário cheio de mulheres nuas! Nunca, jamais em tempo algum eu me vestiria à frente daquela gente toda. Novas e velhas, tudo ali na boa, como se fosse a coisa mais normal do mundo, a vestirem-se à frente de toda a gente, umas mais, outras menos envergonhadas, gordas, magras, enormes, argh, sei lá mais o quê, tive vergonha só de tentar não olhar. E olhem que era difícil porque elas estavam por todo o lado!
Até pode ser a coisa mais normal do mundo. Mas para mim não. A última vez que estive nos balneários de uma piscina eles eram individuais, boa? E nós tínhamos entre 10 e 14 anos, ou seja, menos vergonha ainda de nos vestirmos à frente umas das outras! E não é com certeza com esta idade que vou andar a partilhar as minhas banhas e restantes partes puribundas com gente que não conheço de parte nenhuma. Nem que eu fosse a modelo mais boazona deste mundo e arredores, alguma vez me exporia assim! No way!
Vai ser uma desgraça vai, hei-de ser conhecida naquela piscina como "a que se vai vestir dentro do cubículo". E ainda por cima só há uns 3 no total! Mas não quero saber, não quero mesmo, nem que comece a ir em dias diferentes e horas diferentes para ninguém me conhecer mas despir-me e vestir-me à frente daquela gente é que nem pensar. E não só não me visto à frente delas como não quero vê-las a vestirem-se! Não quero mesmo! É assim tão mau? Bem, acho que vou ter pesadelos esta noite com o que tive de presenciar naquele balneário.
Nem tomei duche, fugi dali o mais depressa possível (acho que os duches são individuais, valha-nos isso... será que dá para vestir no duche? Hum, vou averiguar isso). Lá me escondi num cubículo, o primeiro estava ocupado (pelos vistos há mais envergonhadas) mas o segundo, apesar de não ter fecho na porta (e me fazer lembrar o meu sonho recorrente de querer ir à casa de banho e a porta nunca fechar ou pior, não haver porta!), serviu para o gasto. O mesmo filme, tudo no chão, mala, mochila, roupa, botas, nada de banco, cabide rafeiro, tudo molhado. Argh, isto vai ser difícil. Vou ter de me habituar, mas hei-de fazer do cubículo a minha segunda casa!